Muito mais do que alimentar, o período de introdução alimentar é uma fase de DESCOBERTA.
Durante os primeiros seis meses de vida, o bebê não requer nenhum alimento além do leite materno, que fornece todos os nutrientes essenciais, anticorpos, água, fatores de crescimento e mais.
Entretanto, à medida que o bebê cresce e se desenvolve, surge a necessidade de complementar a amamentação com alimentos sólidos para garantir uma nutrição adequada. O mesmo vale para os bebês amamentados com fórmula infantil.
Por que iniciar aos seis meses? Os seis meses marcam um estágio significativo no desenvolvimento dos bebês, com a presença dos sinais de prontidão, embora não seja uma regra fixa. Alguns bebês podem demonstrar sinais de prontidão um pouco antes ou depois desse período, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a introdução alimentar aos seis meses.
Nessa fase, ocorre uma importante maturação fisiológica do bebê, tanto interna quanto externamente.
Internamente, o organismo está mais desenvolvido e pronto para digerir alimentos sólidos a partir do sexto mês, como o intestino, que passa a absorver nutrientes, o pâncreas e o fígado, que começam a liberar enzimas em quantidades adequadas, e os rins, que conseguem eliminar uma maior quantidade de sódio.
Externamente, os sinais de prontidão incluem:
- Perda do reflexo de protrusão da língua quando algo é colocado na boca;
- Capacidade de sentar sem apoio ou com pouco apoio;
- Controle para sustentar a cabeça e o tronco;
- Interesse demonstrado pelo alimento, como tentar levá-lo à boca.
Agora, sobre o BLW!
O método BLW (Baby Led Weaning) para introdução alimentar, também conhecido como “desmame guiado pelo bebê”, não se refere ao desmame em si, mas à transição da alimentação exclusiva com leite para a inclusão de alimentos sólidos complementares.
No BLW, o objetivo principal NÃO É FAZER O BEBÊ COMER! Pode parecer estranho, mas é verdade: o propósito do BLW na introdução alimentar é permitir que o bebê EXPERIMENTE os alimentos, explore, descubra e sinta sua textura. Isso está diretamente relacionado ao desenvolvimento sensorial, pois a variedade de cores, texturas, cheiros e tamanhos dos alimentos permite que o bebê explore cada um deles de forma mais completa.
Quanto ao risco de engasgos, assim como na abordagem tradicional, o BLW não apresenta maior risco de engasgo, desde que a introdução dos alimentos seja feita com base nos sinais de desenvolvimento do bebê, indicando que ele está pronto para ingerir alimentos sólidos.
Além disso, o bebê pronto para essa fase possui o que é chamado de “reflexo de gag”, que é a capacidade de mover a comida da garganta para a parte frontal da boca, evitando o engasgo quando algo está errado. Esse reflexo pode se assemelhar a uma ânsia de vômito, o que pode preocupar os pais, mas é completamente normal.
No início da introdução alimentar, é preferível oferecer alimentos mais macios e fáceis de manusear. Os pais também devem estar atentos e preparados para possíveis incidentes, como no método tradicional de introdução alimentar.
Se o bebê não está comendo os alimentos, apenas brincando com eles, isso é ótimo! O objetivo da introdução alimentar, principalmente nos primeiros meses, não é que o bebê coma, mas sim que ele EXPLORE. Até os 12 meses de idade, o leite materno continua sendo a principal fonte de nutrição, e a amamentação é recomendada até os 2 anos.
Quais são os benefícios do BLW?
- Redução das taxas de obesidade, devido ao controle e à autorregulação do apetite;
- Melhora da coordenação e do desenvolvimento motor;
- Estímulo à fala, fortalecendo os músculos da boca e da mandíbula;
- Maior exposição a variedades de alimentos, criando hábitos alimentares mais flexíveis;
- Estímulo ao desenvolvimento sensorial em diversos aspectos.
Existem restrições de alimentos para começar o BLW?
É recomendável preferir alimentos macios e fáceis de mastigar e segurar pelas mãos do bebê. Aos 6 meses, muitos bebês ainda não têm dentes ou estão começando a desenvolvê-los, então alimentos macios são mais adequados para serem “amassados” com as gengivas. No entanto, não há restrições específicas! É mais importante escolher cortes adequados para os alimentos seguindo a abordagem BLW.
Aqui estão alguns exemplos para começar a introdução alimentar (evitando temperos industrializados, açúcar e sal, e preferindo temperos mais naturais):
- Cenoura, brócolis, tomate, abobrinha, chuchu, couve, batata, pepino;
- Inhame, abóbora, beterraba em palito;
- Banana (sem a casca até quase a metade), uva, maçã fatiada, melão;
- Macarrão parafuso, ovo cozido cortado em quatro, bolinho de arroz com feijão;
- Peito de frango em tiras, carnes em pedaços apenas para chupar;
- Frutas cozidas, sem casca e cortadas em palitos.
Quanto aos estudos sobre o BLW:
O Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) enfatiza a importância de respeitar o ritmo de desenvolvimento neuropsicomotor de cada bebê ao optar pela introdução alimentar pelo BLW. Estimular a interação com a comida, progredindo de acordo com o tempo de desenvolvimento da criança, é fundamental.
Um estudo controlado randomizado chamado BLISS (Baby-Led Introduction to Solids Study) comparou o BLW com a introdução tradicional de sólidos e não encontrou diferenças significativas em engasgos, peso ou índice de massa corporal (IMC). No entanto, observou-se uma redução na aversão alimentar nas crianças submetidas ao BLW.
A SBP reconhece que todas as formas de relação do bebê com a comida são válidas e que o BLW pode ser uma escolha adequada. É importante que a criança interaja não apenas com os alimentos, mas também com a família durante as refeições.
Lembrando que a escolha entre a abordagem tradicional, o BLW ou outros métodos é uma decisão dos pais, não uma regra. Cada família deve optar pelo método que melhor se adapta à sua rotina e estilo de criar o bebê.